
Legends
Wilson Tanner
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Expansão do universo campestre e idílico de Wilson Tanner sob a forma de um novo capítulo, um novo álbum, um novo quadro de naturalismo rupestre. O equivalente musical à música de Alberto Caeiro? A música de Wilson Tanner, desde a estreia em "69", contempla captações de campo, sopros gentis, síntese relaxada e uma ambiência geral pensada para abafar inquietudes. O primeiro álbum procurava o refúgio da urbe de Perth; o segundo ("II"), mais aquático, focava-se na baía de Port Philip. Em "Legends", o terceiro capítulo, há uma expansão na palete de sons dos músicos australianos, que recuperam assinaturas não muito distantes das de Roberto Musci, revelando a localização algures entre terras aborígenes e o mundo industrial, inspirado pelo vinho e pelas vinhas dos arredores de Adelaide. "Blush" podia ser uma qualquer canção da indie pop na transição do século, não fosse esta composta por uma rica harmonização em guitarra e síntese cuidadosamente colocada a seu meio, virando o sentido da faixa e transportando-nos para tempos mais fáceis através do tocar-de-teclas naif - catchy, emotivo, nostálgico por um qualquer tempo impreciso, descomplicado. Gravado no que aparenta ser um gravador de quatro pistas - já que se decifram bem os cortes e colagens de sons na estrutura de alguns temas - há uma inocência palpável a brotar do som de Wilson Tanner, seja pela maneira como as guitarras, lânguidas, são tocadas, ou pelo carácter ingénuo, bêbado e jocoso da música (escutem "Grasshopper" - uma ode à candura da natureza - que pelo seu fim se metamorfoseia, abrindo a crisálida num feixe de luz). "Brown", de percussão dubbed-out, liquefeita, refresca no torpor do calor e cativa na sua languidez lúdica. A terceira prova em álbum de que há aqui qualquer coisa de diferente, de único, a sair do lado mais campestre, inerte e despreocupado da música Australiana. Originais como poucos outros, Wilson Tanner são um nome a reter.