
Alegria Terminal
Vaiapraia
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A música punk como veículo político, de emoções, catarses, uma forma de terapia. Vaiapraia já picou os pontos todos. Os estúdios de Londres, o intercâmbio cultural que por lá se faz e a maturação pessoal e filosófica (podemos dizer assim? o último, “100% Carisma”, era muito diferente no tom e na execução deste “Alegria Terminal”) devolveram Vaiapraia com renovado vigor em 2025. “Eu Quero Eu Vou”, por exemplo, agarra-se à cabeça com as vociferações punk do título, dinâmica pergunta/resposta até ao verso principal, altura onde acordes de teclados montam uma cama para o resto da instrumentação, sobre a qual Vaiapraia comenta “Acordes fáceis, morangos na minha boca / Acordes fáceis partem a coisa bacoca”, qual carta de amor à música simples e/ou punk e a sua importância. “Ponte S” revela das músicas de Vaiapraia mais à deriva, com uma linha de guitarra rodopiante e com letras surrealistas que problematizam a relação entre Adão e Eva - o poder das serpentes é assustador, tanto o animal como a metáfora. “Ar com Ar” continua com vontade de experimentar e fazer diferente, com um início de secção rítmica que faz lembrar os temas mais percussivos e marginais de Raincoats e com um refrão que afirma não há mal nenhum em rimar ar com ar. “Sing Along” propõe o desafio homónimo, apesar dos troca-línguas na letra, com riffage punk acelerado, despreocupado acerca dos outros, se os conseguem acompanhar ou não. Vulnerável como poucos (ouçam “Carpideira” e o derrame emocional que é feito pelo seu meio, por cima de acordes de guitarra molhados e percussão electrónica - boys do cry), genuíno músico de autor, Vaiapraia continua a ser dos que melhor consegue passar o coração para papel e para as ondas aéreas, com punk-rock visceral, de sentimentos à flor da pele, à procura da noção de verdade mais próxima aos factos - “não chores porque acabou, sorri porque aconteceu”.