
Não Estragou Nada
V/A
Gerações cruzam-se num compêndio de todos os talentos em mais de uma década da Príncipe: "Não Estragou Nada" é A compilação essencial da editora, revelando todos os segredos e celebrando a abertura de uma nova casa - a Casa Príncipe, loja e agregação cultural de todos as valências deste admirável mundo novo. 38 faixas escolhidas a dedo, com nomes já conhecidos de todos e outros novos, como Helviofox, LawBeatz, E8 Prod, Bubas Produções, Mixbwé, Mano Jio e Diiony G. A compilação arranca com "Para de Espirrar" de Farucox, uma mistura de vozes pitched-up, melodia de duas notas contagiante, batida eficaz, subgraves gordos que, mais à frente, começam a cantar, uma linha de piano harpejada que reverbera pelo canal estéreo fora - dubby! Bubas Produções carrega peso tectónico e melodias metalizadas na sua "Samba no Pé". DJBboy impressiona pelo baixo MIDI completamente deslocado, mas eficiente. Niagara com uma das faixas com som mais "Príncipe" até à data, numa linguagem mestiça entre a habitual weirdness airosa e os códigos da música das urbes. "Camones" de Lilocox é psicadélica de duas formas: na melodia que se entrelaça entre a batida e no mini-flanger que acciona e propulsiona o som percussivo. "Som di Paz" de NinOo combina percussão afrobeat, bassline electro (o acomodado, cor de cal, dos inícios dos 2000) e uma melodia soprada, qual flauta midi, que soa invariavelmente à Príncipe. Nigga Fox surpreende na sonoplastia, de síntese rasgada, pontilhismos sci-fi, linhas de voz indecifráveis: transcendência total. Assinaturas sonoras precisas que vão do tarraxo, kuduro e o som da batida, num estilo inimitável: é a derradeira celebração de umas editoras mais prolíficas e originais no mundo - não é enviesamento, é um facto: a curadoria da Príncipe continua a revelar consistência e uma preocupação inabalável pela música. Gostávamos de ter espaço para falar de todas as faixas, mas é impossível. Fica a máxima: ouvir para crer. Um verdadeiro a não perder!