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All Life Long

Kali Malone

Ideologic Organ

Regular price €19,50

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Por defeito, há uma vontade de considerar certa música como contemplativa, seja pela ausência de palavras, padrões de repetição ou uma ideia de calma subjacente à forma como a música é conduzida, dirigida. O defeito, por vezes, traduz-se em erro, erro que nasce – muitas vezes – da ausência que temos de tempo para a música. A música torna-se contemplativa apenas pelos actos a que associamos a ela, por exemplo, ouvimos x género de música enquanto estamos a fazer x tarefa, ou álbum y é bom para acompanhar as leituras nocturnas ou para satisfazerem uma qualquer sessão de trabalho que exige trabalho. Ouvir música por ouvir, sem distrações, é coisa rara. Em parte, parece um luxo, porque nada nos impede de ir fazer outra coisa qualquer, ou de estar a olhar para o telemóvel. Por outra, a música tornou-se nisso, voluntária ou involuntariamente, algo de fundo, que se processa relacionado a outra coisa qualquer. A música de Kali Malone tem os elementos para cair na categoria de contemplativa e ao assumi-lo estamos muito errados. Não por “desrespeito”, mas porque estamos a assumir algo que não é. Depois de “The Sacrificial Code”, “All Life Long” apresenta-se como o passo seguinte a nível composicional (“Living Torch” fazia parte de um projecto e “Does Spring Hide Its Joy?” nasceu de uma colaboração). E esse passo está interligado com a ideia de quebrar com as noções de contemplação – ou até de entendimento – e de se ouvir como uma obra que dá aquilo que estivermos dispostos a receber, no fundo, de a ouvirmos como deveríamos ouvir a música, com total atenção, com a ideia de que há algo mais para fazer, ou que poderia ser feito, fora da equação. Absorve, encanta e torna evidente os fundamentos entre clássica e contemporânea que Kali Malone tem explorado no passado. Aqui acontece o momento em que tem de ser levada a sério, fora das caixas onde nos habituámos a meter certos géneros ao longo da última década. Isto é outra coisa.