Live At Liquid Room
Jeff Mills
Infalível, certeiro, por algum motivo Jeff Mills tem a alcunha de Feiticeiro, ou "The Wizard". Selecção imaculada e uma precisão cirúrgica na arte da mistura fazem dele e de "Live at Liquid Room Tokyo" uma espécie de milagre musical. Entusiasmo palpável pelos gritos do público (audíveis no mix aquando de momentos chave como, por exemplo, a introdução que nos remonta a uma estação interestelar, sob a alçada do seu tema-quase-ambiental "Utopia", ou quando se ouve a primeira batida de "The Extremist"; também se ouvem apitos no primeiro tema de Millsart, convocando verdadeiro espírito rave), a verdade é que este mix não pára de surpreender ao longo dos seus 3 actos e mais de uma hora de música. Habilidade nos faders (espreitem a reacção do público quando "The Extremist" começa a ser misturada com "Magneze" de Surgeon, ou as transições entre "The Start It Up" de Joey Beltram e a "Step to Enchantment (Strigent)"), spinbacks delirantes (na Magneze, de Surgeon, o público entra num delírio alto na mistura), ou o efeito de repetição de faixas, com duas cópias da mesma, como nos é apresentado também em "Step to Enchantment (Stringent). Há todo um conjunto de técnicas aos comandos da mesa de mistura e dos discos de vinil que definem um DJ. Jeff Mills parece dominá-los todos. As misturas são feitas de forma quase imperceptível, transitando entre faixas sem erros crassos, subtraindo-as uma a uma como se de ilusionismo se tratasse. O som? BPMs acelerados, nunca abaixo dos 145, distopias e utopias techno em iguais partes, com chama de Detroit bem acesa, kicks poderosos, funk nas 909s, pads oníricos e groove sempre presente, em qualquer que seja o tema. Há alguns momentos-chave irresistíveis, como o momento onde toca "Changes of Life", o spinback na "Life Cycle" para a "The Bells", o remix de Ian Pooley de "Rock da House", a maneira como subtrai "The Bells" para a "Work That Body" de DJ Funk, com provocação pela via dos faders. Enfim, são demasiados os momentos-chave para destacarmos todos por texto - ficámo-nos só pelo primeiro "Segmento" quando os 3 contêm momentos imperdíveis. Arriscamo-nos a dizer que o mix em si é um momento-chave para a cultura musical global. Uma lição de história da música de dança e uma masterclass em DJing - em vinil! - com o poder de fazer exponenciar ou derrubar qualquer ambição de singrar como DJ, consoante as intenções de cada um. É preciso ouvir para crer? Sem dúvida. Jeff Mills era (e é, apesar de o arsenal ter mudado para periféricos digitais) um génio. As provas estão aqui.