Heartbeat
Chris & Cosey
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Quase como afirmação de identidade, a segunda canção em “Heartbeat” chama-se “This Is Me” e Chris Carter + Cosey Fanni Tutti cantam “here I am… gonna get you”. No final da existência dos Throbbing Gristle, este álbum soa nitidamente a uma exploração mais intensiva do que TG haviam feito em “20 Jazz Funk Greats” (cuja edição mais alargada aconteceu também em 1981). A interpretação desviada do universo synth pop ia mais no sentido de, através da tecnologia, marcar um distanciamento em relação ao formato rock e, por outro lado, procurar sons pouco ou nada utilizados, numa época em que o acesso às máquinas ainda significava uma vantagem decisiva para quem sabia tirar delas o melhor partido. Dito isto, a linha de baixo em “This Is Me” parece apoiar-se na utilizada em “Baby Let Me Kiss You” de Fern Kinney (1979, por sua vez apoiada na versão de King Floyd editada em 1971). O flow de energias parece nunca cessar e, pelo menos em dois outros momentos, Chris & Cosey pisam outros passos: “Moorby” e a sua construção de embalar recordam explicitamente Kraftwerk poucos anos antes, tal como “Just Like You” soa como Klaus Schulze ou Edgar Froese com um pouco mais de sombra. A herança cósmica vem também do próprio trabalho de Chris Carter, a solo, nos 70s. Tudo coordenado, solidificado e reprogramado para uma nova sensibilidade nos 80s, algo que, apesar de todas as referências que já referimos, ainda pode ser visto como pioneiro. Aqui está a fundação mais cristalizada de muito do som que se escutou na década seguinte e, mais relevante para nós hoje em dia, que se escuta agora de novo (oiçam “Moving Still” e tentem não pensar pelo menos um pouco em Oneohtrix Point Never). Não percam isto, porque neste álbum podem sentir claramente o romantismo com que esta música era feita + o espaço que abriu e do qual ainda usufruimos hoje.