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Spectral Evolution

Rafael Toral

Moikai

Regular price €13,00

Tax included.


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CLIP1


Quando Rafael Toral “arrumou” a guitarra há cerca de vinte anos para iniciar o “Space Program” existiu alguma dificuldade em imaginar que voltaria ao instrumento com que tinha feito carreira até então. A razão prende-se pela bolha do “Space Program”, Toral a construir instrumentos electrónicos para explorar uma ideia muito própria, que começou a solo e depois se expandiu para diferentes formações. Por outras palavras, qualquer um se imagina aí, encontrar um canto para aperfeiçoar as ferramentas de trabalho e usá-las para transmitir uma linguagem singular. O não-regresso a guitarra nunca seria por uma questão comparativa - um melhor do que o outro - mas pelo “Space Program” ser o caminho. Por aqui, nasce o sentido primário de “Spectral Evolution” apresentar-se como surpresa, o regresso à guitarra de Rafael Toral. Depois vêm os outros, respostas imediatas logo nos primeiros segundos, às perguntas do que aqui muda em relação ao que ficou para trás. A resposta faz-se ouvindo - e leia-se isto para lá do cliché -, Rafael Toral passou anos a desenvolver linguagens, técnicas e instrumentos sofisticados que aperfeiçoaram o milagre de pegar numa guitarra e voltar aos drones. Há luz nos primeiros minutos, tudo se ilumina, tudo soa diferente ao Toral dos 1990s até meados dos 2000s, embora a capacidade de aproximar harmonias abandonadas continuar lá. Esses primeiros minutos são um festim, a música entra - entra mesmo - e tem uma dimensão épica, como se estivesse a dar tudo, sem derivações. São minutos encantatórios onde se monta a base do que se seguirá, uma abordagem estonteante e renovada à “música de guitarra”. Consegue isso graças ao “Space Program”, importa linguagens, sons - ou forma de chegar a eles - daí e “Spectral Evolution” expande-se com a liberdade do jazz, sem a necessidade do imediato, com a vontade de fazer perdurar. Drones de jazz, saídos do som único da guitarra elétrica de Toral, que consegue fazer com que soe uma orquestra a tocar, elevando cada instante a um patamar superior ao anterior, em contínuo. A luz inicial, essa, sempre presente, sempre a afetar-nos, física ou emocionalmente. A acelerar a nossa vontade de sorrir. Uma coisa magnífica que ressuscita, seja a guitarra de Toral, parada há anos, seja a Moikai de Jim O’Rourke, parada há mais de duas décadas e com “Spectral Evolution” encontra uma razão para voltar a existir. Sofisticação e infinito juntos, “Spectral Evolution” soa àquilo que é, o regresso que nunca esperávamos que acontecesse, Rafael Toral faz-nos ouvir um fantasma, uma realidade paralela ao longo de cinquenta minutos. Porque, afinal, isto está mesmo a acontecer?