Through A Room
Bill Nace
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A história acontece sem se dar por ela. O caso de Bill Nace funciona como exemplo pela existência enquanto actor presente de um underground norte-americano que até há pouco tempo lhe recusava o papel principal. Projectos com Chris Corsano, Kim Gordon, Aaron Dilloway e inúmeras colaborações com músicos desde Joe McPhee, Paul Flaherty, Okkyung Lee ou Thurston Moore deram-lhe nome e palco. Apesar do reconhecível nome, “Both” (Drag City, 2020) foi para muitos uma revelação. Em ano de pandemia, “Both” ouvia-se como uma bem-vinda tempestade, música física que tranquilizava com abundância. Aqui o verbo deixou de ser a guitarra. Nace usa o taishogoto – instrumento criado por Goro Morita – como elemento central, trabalhando em sua volta com o seu setup habitual. Som calmo, por vezes soa a um ininterrupto lamento (“E:E”) que assimila o tempo como uma caminho para a meditação. Se “Both” continha a tempestade, “Through A Room” assimila uma tranquilidade e exala isso com constante surpresa. As frases são continuas, pontuação ausente e ouve-se com a ideia de música a acontecer, isto é, sem destino, fronteiras, fim. “Crooked Teeth” respira ao longo de sete minutos uma ideia de plenitude, resistindo a conceitos de tensão ou fragmentação. Contudo, persiste a sensação de algo estar incompleto, o que coloca o ouvinte à procura de uma qualquer resposta para uma pergunta que não existe. Um tema que realça que existe uma permanente dúvida em “Through A Room”, se Bill Nace enclausurou a sua música ou abriu-a para outros horizontes. Tudo depende de como se a ouve ou como se a quer ouvir. Um labirinto com várias saídas. Todas elas com um caminho certo. Música que dá um inexplicável prazer em ouvir.
