A Moon Shaped Pool
Radiohead
Há mais de uma década que os Radiohead são um pouco mais do que música. Cada disco vive da antecipação e do acontecimento mediático à volta. Tornaram-se numa espécie de bandeira para a evolução da distribuição da música neste século. Concorde-se com isso ou não, veja-se mal ou bem, isso pouco interessa. É uma estratégia como qualquer outra e isso só acaba por ter relevância noutro lado. É verdade, contudo, que perderam o impacto/influência que tinham com a sua música desde “Amnesiac”. Isso não é um ponto negativo, é difícil para bandas de grande escala continuarem a desafiar as fronteiras, e o que fizeram depois disso foi assentar num conjunto de ideias que envolvem trabalho de estúdio, dedicação e muitas horas à procura da fórmula perfeita para algumas músicas. Mesmo quando há registos dessas com cerca de duas décadas (“True Love Waits”, que encerra “A Moon Shaped Pool”, é caso disso), esperam o tempo que precisam para entregar a versão que lhes agrada. Isto é coisa de elogiar. Contudo, apesar do vulto de “Amnesiac”, os seus discos nunca foram uma repetição do anterior, e sim um afunilar de uma depuração que sirva a mentalidade actual. E neste disco há uma presença mais discreta da individualidade do conjunto, algo que já se havia sentido noutros álbuns, mas que aqui é mais consentida pelo tom algo brando do álbum. A pretensa fúria de outrora concentra-se agora de outra forma e isso faz com que, por exemplo, as palavras tenham mais significado: e continuar a querer encontrar-se o que quiser nas palavras de Thom Yorke. Há uma paciência infinita neste álbum, que é coisa que às vezes falta nas bandas desta escala e na sua urgência de serem relevantes. Os Radiohead nunca perderam a sua relevância e paciência nunca lhes faltou. Agora há mais. O que é definitivamente bom.