
Surface Disorder
Jonathan Uliel Saldanha
Síntese pesada, neste disco que não se esquiva à tormenta, como se lê no texto de apresentação. Música para a instalação poliartística com o mesmo título, desenvolve-se em permanente tensão, esta apresentada como normal, parte de uma nova normalidade em que o melhor a fazer é, porventura, aprender a gerir o convívio com a ideia de apocalipse que se instala gradualmente. Semi-alerta, semi-demonstração de vida no caos da realidade que se aproxima cada vez mais de narrativas distópicas de décadas anteriores. As cores, o brilho do som, sugerem desde logo uma imersão em cenário de crise com fundos cromados, multicoloridos. "Nothing makes sense, yet i cannot stop", seguido de avisos. "Information From Angels" mantém um groove intenso mas sem batida, feito de ondas sintetizadas e do ritmo emotivo da voz que segura a atenção durante os cerca de 15 minutos de duração da faixa. Intensamente visual (trata-se, enfim, de música para uma instalação), o som conta a sua própria história, como em "Swarming The Pit" nos coloca a imaginar uma profusão de movimentações apressadas, choques, quedas, Colapsos (o tema central do disco?) representados por inúmeros seres em fuga desesperada, talvez os corpos mutantes que se viam na instalação. As descargas de graves em "Wolf & Virus Dialogues" marcam o passo das vozes sintéticas, distorcidas, uma espécie de pausa final de reflexão que termina desconstruída, puxando o contínuo de experimentação em laptop que fez escola na viragem do milénio e que acrescentou decisiva irrealidade ao som "musical". "The virus adapts, it speaks in frequencies".