FLUR 2001 > 2024



Retromania

Simon Reynolds

Faber & Faber

Regular price €19,50

Tax included.
soft cover, 458 pp, 12,6 x 19,5 cm.

A frase “O Passado é um país diferente” é mais verdadeira depois de cada dia que passa por nós. O impressionante legado que deixamos enquanto continuamos a mexer-nos em direcção à frente é intimidante para quem procura conscientemente uma expressão Nova na sua arte. Em primeiro lugar porque os rasgos de génio tinham muito mais possibilidade de acontecer em épocas menos abundantes na informação disponível, menos contaminadas pela vasta quantidade de informação acumulada (e crescente) desde o boom da Internet. Agora podemos ver muito melhor como era, copiar de uma fonte original, fixar um ponto preciso e estendê-lo até um limite anteriormente impossível. Agora podemos celebrar a nossa individualidade escolhendo modelos cada vez mais obscuros, podemos rever-nos totalmente em coisas que desconhecíamos em absoluto, várias delas em simultâneo. Tudo isso torna complicada uma expressão mais pura de originalidade, nem que seja pela humildade que sentimos ao tomar contacto com momentos-chave que definiram a música de que gostamos.
Simon Reynolds formula aqui em livro uma longa questão por resolver, explica o que já aconteceu e também o que já aconteceu totalmente inspirado por algo que já tinha acontecido antes. Fala do coleccionismo, da net, dos mp3, do Japão, cultos e modas fixadas em décadas específicas e até em anos específicos, cópias, imitações e fala de uma coisa que normalmente é considerada retrógada mas cuja energia é muitas vezes catalizadora de acção vital no futuro imediato: celebrar música do Passado como resistência à regular futilidade do Presente, reconciliarmo-nos com as raízes para sugar mais um pouco da seiva primordial. A diferença é que há pessoas que ficam por lá sem qualquer desejo de transportar forças para Agora, enquanto que outras sabem que essa viagem no tempo é essencial para imprimir uma marca transformadora nos dias de hoje.
Muita discussão absolutamente pertinente nas cerca de 450 páginas de um livro que parece identificar o Fim do real progresso na pop. Todos nós que gostamos de música podemos viver confortavelmente com essa ideia (muita coisa fresca ainda para descobrir) ou prová-la errada, mas fiquem sabendo que, tal como a Lei diz que o seu desconhecimento não justifica um acto ilegal, também o desconhecimento da música que foi criada antes não desculpabiliza o público que consome com militância a novidade que não é mais do que um reaquecimento de estrelas há muito extintas na praça. Aqui, o que é abominável é a pretensão novo-milenar de fabricar o NOVO como imperativo de consumo sem relativizar a sua (enorme) discrepância em relação ao que existiu antes (temporal, social e culturalmente falando).