FLUR 2001 > 2025



Traveling Light

Rafael Toral

Drag City

Regular price €13,00

Tax included.
24 de Outubro de 2025

LISTEN:
Easy Living - Solitude


Os clássicos são clássicos e tornar-se-ão mais clássicos com o tempo. Bom, ficam standards. A seco, olhar para os títulos do novo álbum de Rafael Toral, “Traveling Light”, percebe-se o jogo com eles: "Easy Living", "Solitude", "God Bless The Child", "Body And Soul", "You Don't Know What Love Is" e "My Funny Valentine". Standards que assumiram diversas formas e feitios ao longo de quase um século e que surgem agora como base para o sucessor de “Spectral Evolution”. A base vai para lá da mera sugestão, é uma forma melódica para cada tema, nunca um ponto de partida, apenas algo que se tem de desenvolver. Esse é o twist de “Traveling Light” em relação a “Spectral Evolution”, a evolução não é sequencial, ou uma questão de definição e, sim, de percepção de espaço. Os temas de “Traveling Light” respiram, expandem-se para o campo aberto e concretizam aquilo que ficara condicionado em “Spectral Evolution” e que, de certa forma, era o que o fazia tão brilhante: a energia para fechar o ouvinte nele e mantê-lo agarrado a um princípio. Isso funciona uma vez, aliás, desde “Sound Mind Sound Body” que Toral desenvolve uma ideia diferente em cada álbum. “Traveling Light” é orquestral e não uma aparição disso como o álbum de 2024. Foi preciso passar por um processo para chegar aqui e os pássaros que ouvimos no início de “Easy Living” são a sinalização do momento: como sempre o foram. Colaborações de Rodrigo Amado, José Bruno Parrinha, Clara Saleiro e Yaw Tembe abrem os horizontes, são geradores de uma ideia da música a sair do seu próprio centro. São, igualmente, uma espécie de analogia do progresso desta evolução, a expressão audível de que o acto não é simulado - pela guitarra, pelos instrumentos que Rafael Toral cria. Toral confia nos convidados para prolongar a experiência de expansão. Ao ouvir “Traveling Light” vem à memória Caretaker e a hauntology de Mark Fisher. “Traveling Light” parece a antítese disso tudo, música que olha para a frente, que pensa no passado sem o cromossoma da memória, da alegoria da sua constante repetição no presente (e, por associação, com o peso do fatalismo e do pessimismo), mas como algo que transcende a lógica com o percebemos: aceita a mudança, que tudo muda e podemos continuar a mudar. Neste caso, podemos expandir, ao contrário de delongar, o que nos faz felizes. Aqui são melodias, harmonias, de certa forma, tradições da música popular/jazz que se expandem e se alongam num gesto de felicidade. É tudo menos abstracto. A música de “Traveling Light” é feliz, luminosa, bela no sentido clássico. É jazz como nunca o ouvimos, com uma leveza constante, progressiva, arrebatadora. Faz sentir que o horizonte nunca esteve aqui tão perto. Viajamos nesta luz, à velocidade de Toral.