Great Doubt
Astrid Sonne
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Desde finais da década passada que Astrid Sonne tem editado com alguma regularidade álbuns - todos na dinamarquesa Escho - que desafiam um lugar da pop/soul electrónica para lá das convenções anglo-saxónicas. Bons casos têm surgido nos últimos anos, talvez o mais sonante seja Erika de Casier, mas quando se pensa neste género de música somos inevitavelmente empurrados para o imaginário de Tirzah e, alguns anos antes, Hype Williams / Inga Copeland. Astrid deve muito a estes últimos, não necessariamente como fonte de inspiração, mas pela forma como permitiram os nossos ouvidos coabitarem com ideias de géneros misturados em meias canções, ou se quisermos ser mais justos, em canções incompletos. Astrid Sonne tem vencido esta ideia de incompleto nas suas composições e refinado a ideia para atingir uma ideia mais redonda, ou seja, acessível. Eis então "Great Doubt", álbum deste ano, que tem esgotado a cada prensagem e, imagine-se, assim irá continuar ao longo dos próximos meses. Podem baladas coexistir com um vazio mortífero? Podem batidas secas, ansiosas, aspirar a uma ideia de balada? E se tudo isso existir em suspensão, entre ecos, piano e letras que dilaceram todas as incertezas que se ouvem nos instrumentais? Há qualquer coisa de insatisfatório em "Great Doubt" e, contudo, é essa insatisfação que nos faz voltar a este álbum vezes e vezes sem conta ao longo das últimas semanas. Como se ao ouvi-lo, ouvi-lo mais, encontrássemos uma resposta. Conhecemos esta sensação, é a da coexistência com o novo, de não saber bem onde e como categorizar isto. Porque não é que seja novo-novo, só nos faz sentir algo diferente pelo escuro e o vazio destas fascinantes amostras pop. Daqui a uns anos ainda estaremos a falar de "Great Doubt".