
Willoughby Tucker, I Will Always Love You
Ethel Cain
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Em 2022, Preacher's Daughter, o LP de estreia de Ethel Cain, ressoou pelo mundo fora, criando uma espécie de estatuto de culto tanto para a artista como para a sua obra - um manifesto sobre traumas familiares, o peso espiritual da religião, violência sexual, tudo num cocktail que junta alguns vícios da Indie Pop - inspiração Lana del Rey assumida - com uma estética "Southern Gothic", como evidenciado na capa do disco e na própria música, com laivos de country lento, pesado, como um corpo arrastado pelos campos de trigo do "Bible Belt". "Perverts", autodenominado EP de 89 minutos, saiu no início deste ano e demarca-se pelo foco em música drone, dark ambient, com produção muito mais lo-fi que o LP de estreia. O que se deu aqui? Ethel Cain não foi feita para o mainstream - deu-se quase um milagre com a sua projecção e com uma postura anti estrela pop. Podemos interpretar "Perverts" como uma tentativa de mostrar a sua verdadeira faceta - a mente criativa de Cain é inóspita, negra, soturna e a sua música é a canalização dessas energias do subsolo. "Willoughby Tucker, I'll Always Love You" assume-se como o ano 0 de "Preacher's Daughter", uma prequela que dá contexto à personagem principal do álbum de estreia e que explica os traumas que serviram de fio condutor na narrativa do primeiro disco. "Fuck Me Eyes", sobrepõe sequências em sintetizador esparsas com notas fúnebres de um teclado electrónico, carregado de efeitos para passar essa sensação de calor próprio da América sulista - Cain canta sobre a maneira como as famílias conseguem deixar cicatrizes irreparáveis e traumas sexuais. "Nettles" já revela mais proximidade com "Perverts" na maneira como faz arrastar notas lúgubres em sintetizador, com tons de violoncelos ou violinos (midi? não sabemos) para criar um leito de pranto e melancolia - "Nettles" é uma carta de amor a alguém que já partiu e um lamento sobre os terrores da guerra. Há em "Willoughby Tucker, I'll Always Love You" uma história de carinho interrompido e uma manifestação de Cain em desenvolver - mais - o mundo que começou em "Preacher's Daughter". gótico, extremamente romântico e melancólico. Ethel Cain é a criadora pop mais afinada com a sua própria melancolia.