FLUR 2001 > 2025



caroline 2

caroline

Rough Trade

Regular price €11,50

Tax included.

LISTEN:
CLIP1 - CLIP2 - CLIP3 - CLIP4 - CLIP5


Um dos paradoxos sobre como ouvimos/consumimos a música do presente existe para lá da música e reside na informação. Temos acesso a redes sociais de músicos, das suas bandas, somos inundados por lives de concertos, há imensos canais de promoção e divulgação e, contudo, hoje é mais difícil do que nunca em ter essa informação presente, assimilida. Ou vivemos num processo de microtransações com os nossos músicos preferidos - e temos de estar lá desde o início, para ter uma espécie de "big picture" - ou então andamos às aranhas. Em parte, isso compreende-se, deixou de haver reportagens a concertos: os lives e as partilhas não substituem isso. Perdem-se histórias, evoluções, crescimentos e percepções. E o excesso de partilha leva a um desgaste e a partilha, muitas vezes, é momentânea, na sua origem está mesmo uma manifestação antirasto. E é isto, estamos dependentes do que apanhamos num scroll, estamos destinados a não perceber certas coisas porque não estamos lá. Sempre foi assim. Agora só é pior. Daí o paradoxo, mais/menos, e chegamos aos caroline. Banda fabulosa saída do Reino Unido na última década, começou pequena, tornou-se num conjunto de oito pessoas. Há paralelos entre eles e outras bandas numerosas britânicas, seja no número, no momento, ou na colagem sonora a revisitações pós-rock. Eis o que distingue os caroline: eles não parecem muito preocupados em sobreviver. Testam, arriscam, procuram símbolos para unir pontes quebradas ou pontes que nem sequer pensamos que existiam. Há várias bandas que fizeram isto no passado, no âmbito pop/rock. O pós-rock foi fluído nelas: Tortoise, Gastr Del Sol, em parte os GYBE! e, se quisermos sairmos do domínio estritamente do rock, os Labradford e os Stars Of The Lid. Os caroline neste segundo álbum soam muito aos Gastr Del Sol. Isto porque adensaram tudo o que aconteceu no primeiro, continuam a misturar ideias da música concreta com techno, são capazes de criar épicos sem qualquer chão e de abrir o álbum com "Total euphoria", a melhor canção dos Dirty Projectors que estes não gravaram: tudo parece fora do lugar, tudo suspenso, tudo lindo. O mote de "caroline 2" é mesmo algo por aí, tudo fora do lugar, mas sem que exista uma necessidade de procurar um espaço para o que está a acontecer ou de que esta música precisa de ser arrumada. Precisa, sim, de ser ouvida. Em relação à longa intro: isto é o que andam a fazer há quase uma década, entre vida de estudante, começar a lançar discos, sobreviver a uma pandemia transmitindo concertos a partir de ginásios vazios e finalmente terem um contrato com a Rough Trade e outro mundo começar a ouvi-los. Quando chegamos aos álbuns, ao 1 e 2, a verdade é dura: perdemos muita coisa. Isto talvez não seja o melhor, ou mais importante que já gravaram, partilharam. Mas é o que, a generalidade, tem para ouvir. E só isso, é muito bom.