
Fragosela-De-Baixo-Mix Quinta XX XXXXXX 1995-96
2M
Segunda tiragem: 50 exemplares. 20pp, 14,2 x 20,2 cm.
Grupo de amigos e conhecidos junta-se na zona de Viseu para celebrar mais uma passagem de ano. Detalhes exaustivos da logística e quem vai, quem se encontra, o que fazem, o que tomam, o que veem. À relativa banalidade da situação acrescenta-se uma camada de época relacionada com um estilo de vida que gravitava em torno da cultura de música de dança. 2M, assim anónimo mas real, já acumulara experiência rave e professava uma modernidade urbana, convencida, crente no centro de actividade e acção, pouco interessada na periferia e no "naturalismo". 10 anos mais tarde concebia o ambiente vídeo na melhor discoteca de Lisboa.
Tiradas secas, sarcásticas, alguns traços da idade (25 anos) a perdoar por quem já lá passou, com certeza a questionar por quem não se revê no tom da narrativa e por quem, 30 anos depois (agora), lê shaming em toda a parte. Eram os anos 90. Em Portugal. Pré-telemóveis e pré-internet generalizada. Um país rock a mudar aos poucos. A XFM a contrubuir. O Alcântara-Mar a contribuir. A Rotunda de Alcântara.
Um tempo em que, como se sabe e está documentado, em muitas discotecas só se ouvia house e techno a partir das muitas da manhã. Era assim no Day After, em Viseu, um dos cenários nesta história. Outro cenário, o principal: uma Quinta nas proximidades da cidade. Prepará-la para festa, habitá-la nesses dias.
Também os relacionamentos. O que correu mal, o que correu bem, o que foi chato e o que foi incrível. Sociologicamente, os embates entre gente com referências musicais diferentes. Um fosso, como sabe quem leva a música a sério. Entre gente com opções de vida diferentes. Outro fosso, e bem explícito. Piadas e comentários hoje em dia impensáveis.
Tudo descarregado da memória em poucos dias, após os factos. Preservou-se a escrita fluída, com inícios de frases em letra minúscula. Adaptaram-se umas aspas. Fizeram-se parágrafos para facilitar a leitura. Local específico rasurado. Os nomes, CLARO, todos transformados. Em código para proteger personalidades. De resto, em princípio, tudo verdade. E no momento apropriado, «os olhos cheios de rave», a expressão poética que ficou no grupo desde que C2 a ouviu de uma colega, quando um dia chega ao emprego praticamente de directa no regresso de uma rave no Alentejo. Embutida na ficha técnica, ligação para uma mixtape com o alinhamento das duas cassetes representadas nesta publicação.