Teocalli
João Pais Filipe
João Pais Filipe no topo da sua forma? Isso impõe-se nos quarenta minutos de “Teocalli”, peça que compôs para musicar o filme homónimo do Colectivo Los Ingrávidos, quando o apresentaram no Batalha Centro de Cinema no ano passado. Um salto criativo, talvez aquele mais distinto desde que ficámos embasbacados com o seu trabalho no álbum homónimo (2018, também na Lovers), quando fazia-nos crer que uma mistura de estilos na bateria poderia ser techno. E era. Desde então faltava esse fresco, essa ideia avantajada de música que se ultrapassa a si própria e cujo o efeito vai para lá da compreensão. Não falamos das diversas colaborações do músico ou do seu envolvimento em grupos - seria injusto compará-lo -, somente do trabalho a solo. Em “Teocalli” acontece, de novo, a novidade, a criação de uma linguagem nova, sem o lado perverso da rotatividade ou de uma circularidade em volta dos mesmos temas. Hipnotiza por expressionismo e não por efeito, agarra-nos os sentidos porque está sempre a ser fraturante. Melhor, procura-o ser. Não se limita à ideia expectável de transe - caminho apetecível neste tipo de ritmo -, procura uma outra via para romper o efeito. Não se sai defraudado disso, antes feliz a entusiasmado por não enganar os sentidos, procura, sim, estimulá-los. A música de João Pais Filipe volta a ser elementar.