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Habitat

Angélica Salvi

Lovers & Lollypops

Regular price €24,00

Tax included.

A música de Angélica Salvi situa-se entre a memória, familiaridade e relações. Talvez seja um desrespeito pelas regras começar por uma referência à música da harpista por via do abstrato, ao invés de arrancar com a referência de que é espanhola, reside no Porto desde 2011, e que “Habitat” é o segundo registo a solo, depois de “Phantone” (Lovers & Lollypops, 2019). Mas esse “desrespeito” faz parte também da música de Angélica Salvi. Não pede desculpa para ser como é. Faz esquecer factos, abre de imediato um imenso leque de sensações e respira uma linguagem que qualquer ouvido entende. “Nan”, o tema de abertura, consegue, em meros segundos, criar uma levitação sonora. Isto antes da harpa, como a imaginamos, fazer-se ouvir. Se “Phantone” existia nessa palavra criada entre “Pantone” e “Phantom”, favorecendo uma viagem pela memória, as harmonias abertas, coloridas e conviviais de “Habitat” promovem uma ideia de presente, de viver o momento. Gravado em Maio deste ano no seu estúdio (Garagem 16), “Habitat” é um grande passo em frente. Parte disso tem a ver com a comunicação direta destes oito temas. A harpa continua a ser o elemento central, mas há um maior uso de efeitos e processamento de som que tornam o som mais especial. O facto desse trabalho ter acontecido em tempo real, para tornar possível que o som se consiga reproduzir e processar de forma direta, tornam a experiência sonora bem mais real, viva, efervescente. Essa abordagem permite igualmente que o som da harpa aconteça com presença de espaço. Imponente, faz-se ouvir, causa estrondo. Os sons parecem uma porta para um caminho, sem que algo se feche. As melodias encantam, mágicas, sem feitiços, adornadas por algo de etéreo. Os temas de “Habitat” ouvem-se como canções e menos como peças. Curiosamente, evoluem como composições abertas, luminosas e que irradiam luz. Há algo de relacionável aqui, tal como em “Phantone”, mas se aí existia um convite pela memória/nostalgia, aqui é como se a música esticasse a mão e quisesse andar lado-a-lado. Os sons encontram-nos, apanham-nos desprevenidos – daí ouvirem-se como canções próximas, familiares – e ecoam com uma vontade de levitar. Talvez por isso, se sinta que a música de Salvi dá a mão, para não se fugir com as canções. Quer-nos ali, a conviver com ela naquelas melodias.