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2020 #17 - "Vol. 9 After the Circle"

Posted by Flur Discos on

Ao longo do mês de Dezembro destacamos um disco por dia. Novidades 2020, reedições ou, até, edições de anos anteriores. A essência é que seja um disco com significado para nós ao longo dos últimos meses. Num ano atípico para todos, mas também num período de grande mudança para a Flur.

 

 

Uma expressão que dá vontade de rir: encontrar o seu folk. É a sensação que se consolida ao ouvir “Vol. 9 After the Circle”, de Filipe Felizardo. Álbum caseiro, fechado em casa, por opção e não obrigado, como em 2020.

Antecipou os tempos? Não vale a pena dar-lhe essa importância, porque existe outra substancialmente maior, que é, lá está, “encontrar o seu folk”.

É isso que acontece num registo inclassificável, entre field recordings, composição e performance. Felizardo regista o som da rotina sem o tornar íntimo, apenas consequente, formatado ao som de existir, em casa, na rotina, na mais costumeira existência quotidiana.

Podia ser qualquer um de nós, a aprender a viver em 2020. Mas ele fê-lo primeiro, num álbum primoroso.

"A casa enquanto espaço íntimo pode também existir enquanto espaço comum. Em “Vol. 9 After The Circle”, Filipe Felizardo captura o som do dia a dia no seu apartamento, com uma guitarra a pontuar a cena, em exercício de banda-sonora sobre banda-sonora. Arrepiante desde o início, a fluência do acaso toma conta do som e da existência. É curioso que um disco como este seja editado numa época de confinamento. Mesmo que já se esteja a desconfinar.

Gravado há um ano no decurso de dois dias, “Vol. 9 After The Circle” é, à falta de melhor visão – e correndo o risco de redundância -, folk do quotidiano. Folk não no sentido de um homem e a sua guitarra – embora também o seja – mas na forma como perpetua a existência em frases simples, que complicam isto do existir. Há qualquer coisa de afirmação neste novo álbum de Filipe Felizardo, como alguém a impor o seu caminho e, basicamente, a apontar o dedo, dizendo que se está a cagar.

Como os grandes. Longe de ser soberba, é apenas um grito de gestos quotidianos, que se autorrecriam na narrativa de uma guitarra, construindo uma voz à John Fahey ou Bill Orcutt. Tão aqui e agora, delicado mas firme a afirmar que a folk é como um homem quiser."