
The Final Frontier
Underground Resistance
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CLIP1 - CLIP2 - CLIP3A magna carta do Detroit Techno, Electro e mais além? A visão de “Mad” Mike Banks (fundador do projecto Underground Resistance, da distribuição Submerge e o grande impulsionador de música afro-americana futurista de Detroit) em retrospectiva, estava anos-luz à frente dos seus contemporâneos. Intenções políticas, militantes, permeavam as faixas até então (“Punisher”, “Riot”, “Your Time is Up”, “Sonic EP”, “Nation 2 Nation”, a lista continua) e “The Final Frontier” não é excepção. O tema-título é, de longe, o punctum do disco, com uma 808 a fazer malabarismo entre timbalões, tarolas e pratos; uma 303 irrompe no horizonte com uma sequência polirítmica que nos toma de assalto, qual sonorização de uma cena de perseguição em motas por entre um labirinto urbano do futuro (Akira vem à cabeça). Os pads que entram, cibernéticos, definem a inexorável distopia; a sequência na 303 muda momentaneamente, com níveis de resonância mais altos, fazendo estalar as notas mais agudas e forçando-nos a toma do produto lisérgico ilícito. Tema que paradoxalmente nos faz sentir esperançosos e desprovidos de esperança - são os pads que definem o tom desta música, numa lição inacreditável em como não é preciso muito mais do que manipular uma mão-cheia de elementos para fazer uma faixa pormenorizada, rica e com intenções claras. “Entering Quadrant Five” sugere, novamente, preocupações geopolíticas, assumindo uma outra paisagem sci-fi com linha de baixo de alta voltagem, arpejo bleepy e um pára-arranca analógico, onde “Mad” Mike Banks interrompe e retoma as comunicações através do toque do botão Start/Stop. “Base Alpha 808” é um exemplo de machine funk puro, com ritmos da 808, 909, outros samples percussivos e uma sequência em sintetizador que tanto ascende como descende, sugerindo a possibilidade de escape. Certamente não somos os primeiros nem seremos os últimos a realçar o quão importante é este disco. Ainda hoje, volvidos mais de 30 anos, UR003 continua a soar revelador, original e futurista. Politicamente? talvez mais pertinente hoje do que há 30 anos atrás. Disco histórico. Cinco estrelas.