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Young Soul Rebels

Stuart Cosgrove

Polygon

Preço normal €6,50

Taxas incluídas.
paperback, 320 pp, 12,7 x 19,7 cm.
(texto por Pedro Tenreiro)

Stuart Cosgrove é um académico, jornalista, crítico musical e homem da rádio e da televisão cujo trabalho marcou aqueles que terão sido os meus anos formativos.
Estavamos nos anos 80 e Cosgrove escrevia para o New Musical Express e para a The Face. E, se o importante jornal britânico não fazia parte das minhas fontes regulares de informação, o mesmo não se podia dizer desta decisiva revista de actualidade cultural que, na sua secção musical, me oferecia a visão de nomes de referência como David Toop e, claro, Stuart Cosgrove, nessa altura, mais focada nos mais modernos e recentes fenómenos da música negra, como o Hip Hop ou o Electro-Funk associados ao Break Dance e House de Chicago ou o Techno de Detroit.
Mas a verdade é que a paixão de Cosgrove pela música negra norte-americana remonta ao príncipio dos anos 70 (começou a escrever em fanzines e na Echoes) e o seu conhecimento quase enciclopédico – reflectido na trilogia “Detroit 67”, “Memphis 68” e “Harlem 69” – está intimamente ligado à sua fanática ligação ao movimento Northern Soul.
É essa ligação obsessiva que este escocês retrata em “Young Soul Rebels – A Personal History of Northern Soul”, um livro absolutamente obrigatório para quem, como eu, sente um imenso fascínio por aquela que terá sido a grande percursora da cultura Rave.
Através da narração de uma série de episódios e experiências pessoais, às vezes íntimas até, Cosgrove faz um apaixonado e aprofundado retrato histórico da cena Northern Soul, não deixando nada de fora – desde os locais, as drogas, os amigos, os Djs, os dealers e, claro, os discos, ao contexto político, económico, geográfico, social e cultural em que o Northern Soul evoluiu.
Ao longo de onze capítulos, e através de uma curiosa relação de empatia que o autor estabelece entre os ghettos segregados das cidades norte-americanas e a oprimida classe operária do norte do Reino Unido no pós-guerra, somos levados a perceber como é que o Jazz e os Rhythm & Blues que alimentaram os Beatnicks, primeiro, e os Mods, logo a seguir, deram lugar à Soul e a um movimento, com contornos quase religiosos, que serviu de válvula de escape às mais desprotegidas classes sociais e que, com altos e baixos, resistiu durante várias décadas e marcou, de forma evidente, a cultura popular britânica que o sucedeu.
E, ao mesmo tempo em que somos levados a locais-chave de peregrinação como o Twisted Wheel, The Torch, Wigan Casino, Blackpool Mecca, Cleethorpes Pier ou Stafford, vemos retratados assuntos que estiveram directamente relacionados com a história do Northern Soul, como a tensa relação entre a polícia e as culturas juvenis, o aparecimento das anfetaminas e o seu impacto, a divisão entre o Norte e o Sul, provocada pelos problemas inerentes à pós-industrialização, Margaret Thatcher e a crise da indústria mineira ou declínio da Costa inglesa como destino turistíco, entre muitos outros.
“Young Soul Rebels” é um apaixonante livro, escrito por um homem que viveu a cena por dentro, que se tornou num ávido colecionador de Soul, num verdadeiro especialista, e que nos consegue transmitir, de uma forma absolutamente avassaladora, a força desta música que, nos últimos 50 anos, tem alimentado noites de verdadeira loucura, viagens infindáveis à procura dos mais obscuros e raros sete-polegadas e que até conseguiu ver na internet um veículo de renovação que a mantem, hoje, tão viva como nunca.
Porque o Northern Soul, estando ancorado no passado, nunca foi um movimento saudosista ou revivalista, sendo precisamente essa constante fome de descoberta de gravações desconhecidas aquilo que está na base de tamanha resiliência, de tão bela teimosia.