Tranquilizer
Oneohtrix Point Never
O nome "Tranquilizer" faz-nos lembrar as intenções de Terre Thaemlitz e o seu disco com o mesmo título. A diferença é que, neste e com a primeira "For Residue", temos uma catapulta directa para o universo liminar de Daniel Lopatin: algures entre uma New Age do nosso milénio e uma ideia de utopia virtual, semelhante, também, à de James Ferraro, influenciada por uma estadia terminal, online, com todas as referências (musicais e mais-além) que daí advêm. Respiros ofegantes, sons de pássaros, um leito sonoro e aquático por onde podemos flutuar. Ouvem-se bleeps e bloops, o choro de uma criança. Voltámos ao Oneohtrix do princípio da década passada? É isso mesmo. Em "Bumpy" sentimos as lombas num percurso não-linear, com pontos de paragem para inalar oxigénio, respirar fundo, continuar o percurso em direcção ao paraíso (qual "Stairway to Heaven", versão Oneohtrix). Há novamente, na linguagem, dele uma vontade de fazer relaxar e planar sob estradas não muito diferentes das da Rainbow Road, do Mario Kart, com todas as cores do arco-iris incluídas no percurso e com direito a uma navegação mais confortável. O sol dos Teletubbies surge à distância, a lisergia começa a fazer o seu efeito. O mundo de Oneohtrix é psicadélico como poucos (há uns arpejos sintéticos, metidos pontualmente ao longo do disco, que nos lembram Steve Hillage e a obra "Rainbow Dome Musick", fazendo-nos acreditar que Oneohtrix está bem ligado à psicadélia dos 70s, actualizando-a aos dias de hoje. "Lifeworld" mete todos os seus elementos numa centrifugadora e devolve-nos cores em plasticina. "Measuring Ruins" traz candura com os seus sopros MIDI e desnorteia com as habituais repetições-glitch do catálogo de Lopatin (algo verificado, também, em "Cherry Blue", com uma guitarra plácida a sonorizar a paisagem de som, entorpecida). A música de Oneohtrix é táctil, como se de um aparelho de aprimoração dos sentidos se tratasse, respondendo às mazelas do dia-a-dia com incisão certeira de seratonina pela via auditiva, tridimensional, receita-médica do futuro. Não há muitos que o façam como ele e já desde "R Plus Seven" que não o víamos tão preocupado em fazer-nos sentir bem. Relaxados. Num porto seguro. Obrigado.