
Age
Cuneiform Tabs
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Mais um caso de sucesso na comunicação musical por correio entre Matt Bleyle e Sterling Mackinnon. Menos ruidoso que o primeiro, homónimo (também destacado por nós), "Age" arranca com "Flush in the Cheeks", uma espécie de encontro entre Brian Wilson e o universo sónico de Spiritualized, num pulsar rítmico astral com acordes em guitarra e piano que criam uma ambiência urgente, qual ansiedade adquirida pelo impacto da vastidão e infinitude do espaço. Música pop assumida, de estrutura linear e ganchos vocais ultra melódicos, não sem alguma da estranheza que encontrávamos no primeiro disco - no final da primeira faixa ouvem-se detritos e lixo espacial a derramar pelos canais, com síntese uncanny a brotar como se dos últimos suspiros de uma máquina se tratassem. "Crow Speech" começa também com uma repetição de um sample vocal que cria estranheza e desconforto, até entrar novamente o pulsar grave que serve de base para um ritmo quebrado e uma exploração textural em guitarra - também as vozes são processadas, atingindo um efeito não muito diferente do que Chris Carter fazia à voz de Genesis em Throbbing Gristle. Criadores pop, sim, mas de uma pop inaudita, mutante, drogada e deslocalizada. Soundscapes de origem misteriosa permeiam o disco, lembrando os loops de fita que ouvíamos sistematicamente em Loveless e que serviam um propósito de derrame emocional (algo que, em "Age", se ouve na sua plenitude no tema "So Light", puramente textural, nostálgico, sensorial). "Taoist Face March" soa a Gaussian Curve ligados a um pedal Death Metal DOD. Melodias entrelaçadas com texturas, as canções de Cuneiform Tabs não são só canções: são diários de uma vida fora da terra, perdidas na infinitude do espaço e que tentam deslindar a trajectória de regresso a casa. Com o sopro constante de fita, não nos conseguimos desprender da intenção do quatro-pistas da dupla como a nave-mãe que circula entre os ventos lunares e a entropia de ruído sideral. Uma banda verdadeiramente sem par - ouvir para crer.