Journey Of The Deep Sea Dweller IV
Drexciya
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Encontra-se na internet a digitalização de uma entrevista feita a James Stinson, ainda em vida, onde este dizia que a música de Drexciya era equiparável a comida caseira: há tempo investido, preparação, ingredientes de qualidade, idealmente saudáveis, ricos em nutrientes, comida que nos reconforta, em contraste com fast food processada, feita num instante e que, essencialmente, nos faz mal. Percebem a metáfora? A música de Drexciya é fine dining. Reza lenda que Stinson, enquanto camionista, não ouvia mais nada senão jazz. Como é que isto faz sentido? A música de Drexciya, apoiada em caixas de ritmo, sequências em sintetizador de altas voltagens, funk desmesurado, irresistível, traduz-se bem do jazz, já que há um flow e swing que não costumamos encontrar notras demonstrações sob o cunho electro. Fórmulas simples? James Stinson e Gerald Donald eram mestres das suas máquinas, exibindo uma série de máxis e LPs que mostravam versatilidade na criatividade e intenções genuínas para moção. A música falava por si, mas a filosofia motriz do projecto ainda falava mais alto: Afrofuturismo emancipado, a lenda de Drexciya nasce de um conjunto de escravos africanos que, mandados fora de bordo a meio do Atlântico, desenvolvem-se subaquaticamente, desenvolvendo guelras e barbatanas geneticamente como mecanismo de sobrevivência, principiando uma civilização avançada, futurista e subaquática. As novas reedições dos quatro volumes que compilam a música de Drexicya são tudo o que precisam para compreenderem a história do mito e do legado de uma das mais importantes duplas de música electrónica - de dança e mais além. A versatilidade é tanta que é difícil isolarmos faixas para as descrevermos, portanto vamos fazer uma por disco: "Wavejumper" mostra as ligações CV em comunicação ininterrupta, com electro-funk duro, impiedoso, eléctrico; "Davey Jones Locker", num ritmo quebrado e teclas em piano sentimentais, cria uma ponte com o Reino Unido, Cornwall e Aphex Twin (que admite ter sido influenciado pela música de Detroit e, em particular, Drexciya, que chegou a editar na sua Rephlex, em 1993); "Aquabahn" parafraseia Kraftwerk e evidencia a facilidade na escrita de canções melódicas por parte da dupla; "Black Sea" mostra o carácter tectónico, pesado que a música deles também conseguia atingir, fugindo aos ritmos alternados do Electro, apoiando-se num four on the floor com síntese impiedosa, rasgada, numa faixa de tom duplamente ameaçador e esperançoso, qual hino de resistência negra. O mundo de Drexciya é um cosmos que merece estudo e atenção. Audições repetidas revelarão música complexa, com sequências criativas, sons inauditos e uma parede de som inimitável, apesar das milhares de tentativas ao longo dos anos, até hoje. Bravo, bravo, bravo. Novas reedições, com capas alternativas, de volta ao mercado. Mais essencial que isto é difícil.