Church of Kidane Mehret
Emahoy Tsege Mariam Gebru
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A série Éthiopiques tornou Emahoy Tsege Maryam Gebru (1923-2023) conhecida no ocidente. Contudo, o fenómeno reformulou-se graças a um recente entusiasmo gerado à sua volta, uma série de edições cuidadas e um documentário na BBC Radio que a levou a uma audiência completamente nova: seja geracional ou de um público que normalmente não procuraria este género de música. As edições cuidadas têm sido da responsabilidade da Mississippi Records. Esta não é excepção. Capa preta bonita com bons detalhes em prateado, um booklet de 12 páginas que contextualiza os primeiros anos da vida de Emahoy - e as suas viagens - e o contexto da música incluída em "Church Of Kidane Mehret", para onde ela foi viver em 1984 e onde morreu. Este álbum é uma compilação de peças para piano, de uma prensagem privada de 1972, em junção com outro álbum de Emahoy, "Der Sang Des Meeres", do qual só foram feitas 50 cópias, tendo sido uma resgatada do lixo do mosteiro onde a freira faleceu. É essa cópia que tornou parte deste álbum possível. A música como dever religioso, extensão de uma prática e, em simultâneo, a procura de uma luz que parece distante. Essa procura surge evocada constantemente no seu som - oiça-se "Jerusalem" ou "Souvenirs" -, aqui a qualidade da gravação torna a noção disso mais incessante. Não nos sentimos sozinhos com a música de Emahoy, viajamos entre melodias do sublime e uma harmonia espectral que se ri da teoria do hauntology: o piano de Emahoy é o contra-assombro, o desfazer da nostalgia. Peças puras, pensadas para existir num círculo fechado, que nunca imaginaram que o mundo inteiro as poderia ouvir. Agora pode, e é como um segredo que continua a sair para o mundo.