Dois Sóis Cintilam Sob a Nebulosa do Silêncio Enquanto Um Universo Adormece Na Outra Dimensão
Vítor Rua & Nuno Rebelo
Na prática, os dois sóis cintilantes são Rua e Rebelo, aqui entrelaçados com sintetizadores e guitarras em múltiplas combinações que não soam como habitualmente qualquer dos músicos, isolado, soa. Fazendo uso de tecnologia recente (a lista de sintetizadores e guitarras está enumerada), ambos os músicos dispensam o estatuto de clássicos a que obviamente têm direito para se posicionarem no Agora sem depender de louros e formatações conhecidas. O eterno fascínio da música livre é também esse, a descoberta acontece tanto por parte do ouvinte como de quem cria a música. Os títulos do álbum e de ambas as (longas) faixas sugerem o enquadramento cósmico que Vítor Rua tem utilizado em muitos dos seus recentes textos e ensaios de crítica musical (ver site Rimas e Batidas), curiosamente quase como se prompts para IA tivessem sido algo como "etéreo" e "palavras cósmicas". Neste disco, a música ela própria manifesta-se como artificial e inteligente, sim, organismo vivo e autónomo, mas ao mesmo tempo como ecossistema em que coexistem diversos organismos que nos são acessíveis em escuta panorâmica, cinemática, com intervenções geralmente curtas e consequentes, sem qualquer desnecessária sustentação de um motivo. Algumas camadas em fundo prolongam-se mais do que os destaques de superfície, fornecedendo um discreto tecido unificador. Na segunda faixa, o dedilhar elegante na guitarra, grave como um baixo, fornece o discurso que se destaca da ambiência bem profunda que acontece em paralelo. Em plena forma, estas duas forças em permanente exploração (Rua e Rebelo), oferecendo ao Universo Adormecido não apenas luzes de presença para conforto mas faróis de guia para viagens fora do Eu.