
Demilitarize
Nazar
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No álbum de estreia, Nazar bombardeava-nos - é essa a palavra correcta - com beats que desafiavam o próprio ADN da música que criava. Era um exercício de suster a respiração em simultâneo com uma ideia de música de dança que tirava o ar da sala. Música para desmaiar, como exercício limite de algo. Eis o segundo capítulo nos longa-duração de Nazar, este “Demilitarize”, que tomou um tranquilizante e assumiu o direito daquela música ser outra qualquer. Explosão primeiro, tranquilidade depois? É uma ideia. A outra é que Nazar continua a fazer o mesmo, mas vai agora por outro caminho. A música continua a ser sensorial, a arrepiar a pele, mas se antes era pela sua categórica explosão, agora é por um exercício de sensualidade, em que free jazz está num date com R&B, e a ideia de música de pista foi completamente suprimida. Pode música sensual ser igualmente urgente? Nazar quer fazer-nos acreditar que sim, “Demilitarize” ainda tem a missão de urgência, a ideia de um conceito, de algum concretismo, continua a dominá-lo. E isso ainda faz com que a música seja angular, que pique, que seja algo que corte ao se tocar. É uma fera por domar, que não se deixa tocar, mas quando nos toca é mansinho, suave, como uma espécie de criação de um funk/disco de 2025 que só Nazar sabe fazer. Oiça-se “Heal” e a forma como escorrega pelo eterno, sensualidade e abismo juntos em cada momento, em cada beat, em cada segundo. É um hino a acontecer nos nossos ouvidos, é o futuro a ligar, em como kuduro, free jazz, R&B e música de intervenção podem existir em simultâneo. Nunca tínhamos ouvido um disco como “Guerrilla”. Nazar obriga-nos a dizer a mesma coisa: nunca ouvimos um álbum como “Demilitarize”. É um dos álbuns da década.