
Gravity
Monolake
Pela primeira vez em vinil, Gravity explora as possibilidades do Dub Techno deixadas em aberto depois de Hongkong, seguindo um caminho mais soturno, minimalista e despido, já sem o foco nas captações de campo tão exemplarmente processadas no disco de estreia, com mais atenção na construção de ambiências soturnas, próprias dos interstícios entre ruas e espaços liminares, entre o dia e a noite. O primeiro sem Gerhard Behles (que avançou com o negócio Ableton), neste o esforço a solo de Henke nota-se mais um abraçar do digital, com as tapeçarias de dança, soturnas e pouco luminosas, a ganhar novos brilhos com uma produção mais hi-fi e menos analógica, a começar pelo som dos pratos, muito mais brilhante, clicky e digital, próprio da época onde o glitch andava de mãos dadas com o circuito de música electrónica experimental. Som espaçado, separado, com reverberação suficiente para acharmos que tudo isto foi gravado com microfones numa sala gigante, vazia; o título fala-nos de gravidade, ou da ausência dela, que nos permite flutuar ao ouvir este disco sobre qualquer cidade, qual deriva nocturna sobre uma urbe que não consegue adormecer. Menos para pista e para o corpo e mais para a mente, consegue-se viajar de olhos fechados. O terceiro LP de Monolake é um marco na história do techno que se desvia da cena de clubbing, primorando proeza artística e inovação sónica e bem na linhagem de toda a lógica ambiente/chill out que deu início nos 90s em território europeu. Alegadamente inspirado numa vista sobre Berlim, Robert Henke construiu em "Gravity" um dos discos mais nocturnos de que temos memória de ouvir.