Ars Memoria
Peter Evans - Being & Becoming
Peter Evans é especial. Um especial que vai para lá da forma como nos mostra o trompete, mas pela forma como cria, explorando novas - e nada óbvias - realidades sonoras enquanto, em simultâneo, puxa-nos a atenção para as coisas certas sem nos enfiar numa narrativa de armadilhas ou de falsas soluções. Os últimos anos têm sido um desafio permanente - oiça-se "Murmurs" e aquela flauta - e depois há este novo quarteto, Being & Becoming, formado por Pete, Joel Ross (vibrafone, percussão), Nick Jozwiak (contrabaixo) e Michael Shekwoaga (bateria). O primeiro - homónimo - já era uma aventura arrojada de elipses e buracos negros, "Ars Memoria" liquidifica essas ideias e volta a torná-las sólidas com uma forma totalmente diferente. Continua com uma grande atenção ao detalhe, por mais livre que seja, tudo parece esculpido, medido, calculado com precisão e assistência para que o que se oiça não se sinta de imediato como jazz - embora o arranque do tema título aponte exactamente para isso, depois é outra coisa - e nos sintamos à-vontade para respirar outras coisas. "Nowhere" e "Salah" são vibrações em transe, como se várias coisas na terra se encontrassem ao mesmo tempo. Até o mais relaxado, a abertura com "The Cell" lembra o céu aberto de "Particles" de Basil Kirchin e a tanta coisa que pode acontecer.