Limen
KMRU & Aho Ssan
A convite do Berlin Atonal e inspirados por "Akira" de Katsuhiro Otomo, KMRU e Aho Ssan criaram um conjunto de peças de cyberpunk explosivo, combinando digital-fogo à flor da pele (Aho Ssan, brilhante nesta demanda, responsável pela belíssima plasticidade que é "Simulacrum") e ambientes que roçam uma ideia particular de ambiência cinematográfica (KMRU). "Resurgence", a peça de abertura, é uma intensa cacofonia de destruição e criação. É indissociável ouvi-la e não pensar na destruição da capa, em conjunto com uma ideia de fénix, em que se destrói, renasce. A destruição, enquanto conceito sonoro, contorna a destabilização e tem aquele efeito catártico, com a saturação a criar diferentes camadas que são uma beleza de se ouvirem, notarem. "Rebirth", logo a seguir, complementa a ideia anterior com detalhes angulares, relembrando que a construção, ou o renascimento, jamais poderão ser feitos em silêncio. Há qualquer coisa de místico/religioso, com dois músicos a tentarem, em simultâneo, extremos de destruição e beleza. Como se não houvesse outra forma de recompor o mundo senão através de uma destruição enraizada, enfatizada pelo próprio enfatismo. Pessimista, talvez, mas enquanto experiência sonora "Limen" é uma das mais belas e intensas concretizações sónicas que o pós-pandemia (ou esta nova ideia de mundo) tornou possível.